Juliana de Almeida
Um cheiro bom...
Quem molha a terra?
É meu amor que semeia.
Juliana de Almeida

(Canção para meu gato.)

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Juliana de Almeida
Formigas no açúcar.
Crianças na chuva.
Juliana de Almeida
"Cachorrinho, vem pra cá!"
"Cachorrinho, sai pra lá!"
Ó criaturinha do céu...
Há de se beatificar o cachorrinho.
Juliana de Almeida
Quem contou os dez contados
Contou tudo sem parar
Teve que contar sentado
De tanto o dedo passar

Cada nota de um conto
Era fácil de lembrar
Todas elas cá no manto
Do restante que sobrar

As de dois separadinhas
Pra ninguém se complicar
Deixei todas dobradinhas
E as de cinco vou contar

Cinco contos cá na cesta
Já pensei em como guardar
Quem pensar que eu sou besta
Case dez pra apostar

Os dez que ganhei teu
No bolso vou colocar
Se chamar: “Amigo meu!”
Posso bem desconfiar.

Das de um conto são dez notas
Comecei a anotar
Minha avó, que é bem velhota
Pôs os óculos pra enxergar

Cinco vezes, vezes dois
Foi assim, multipliquei
Minha avó chegou depois
E pegou todas que eu guardei

Das de cinco são só duas
Não confunda isso, não
Minha avó gritou: “Pra rua!
Traga leite, queijo e pão!”

Nota de dez só tenho uma
Do bolso nem vou tirar
Senão fico sem nenhuma
E digo: “Vovó, é melhor cegar!”


Juliana de Almeida
Na casa da vizinha
o melhor café!
Juliana de Almeida
Tá em mim, tá em tu
Meu amor, você sentiu?
Tá em mim, tá em tu
Esse cheiro que subiu
Tá em mim, tá em tu
Tá sentindo? É percevejo!
Tá em mim, tá em tu
Eu já sei, mas não o vejo.
Tá em mim, tá em tu
Como é que se esconde?
Tá em mim, tá em tu
Por favor, me diga onde!
Tá em mim, tá em tu
Deve estar no teu cabelo.
Tá em mim, tá em tu
Tô entrando em desespero!
Tá em mim, tá em tu
Vou achá-lo e é agora
Tá em mim, tá em tu
Anda, Pedro, não demora!
Tá em mim, tá em tu
Acho que ele saiu
Tá em mim, tá em tu
Graças à Deus, ele partiu!
Tá em mim, tá em tu
Vem aqui pr'eu dar um cheiro
Tá em mim, tá em tu
Mais que cheiro eu quero um beijo!


Juliana de Almeida
Tá em mim,
tá em tu.
Juliana de Almeida
Me parece que o tatu
anda meio mal-humorado
principalmente o tatu-bola,
que o chutam pra todo lado.
Tomba, tomba,
tatu tomba
pum, pum, pum
na carapaça
Pernambuco, Paraíba
foi parar lá na Bolívia
Olha só a cara dele
não conversa, não quer papo
Vai correndo rapidinho
se enfurnar no seu buraco.
Mas, vejam só que maravilha
o tatu girando o mundo
dançou tango na Argentina,
é o melhor da Conchinchina!
Juliana de Almeida


De onde vem não sei
Só sei que arde em mim aquele desejo,
desejo venéreo de ti
Vivíssimo prazer que absorve todo e qualquer sentimento.
Da voz que flameja paixão
aos impulsos de minhas mãos.
Juliana de Almeida
Branquinha
Os loirinho’ do pescoço mais gostoso, gracioso,
mais cheiroso, assim jocoso.
Porquinha
Ronca no meu pé d’ouvido e rosca, enrosca a coxa
massa, amassa, enlaça este meu ser!
É intrigante o seu perfume francês.
A natureza bela de um siamês.
Juliana de Almeida
Hoje, mulher casada.
Quando volto à casa de minha mãe
Meu quarto está lá do mesmo jeitinho
E, no mesmo momento em que me espanta,
o tempo me arrebata com antigas sensações
É pura sinestesia o que tem no meu quarto de solteira!
Fotos de amigos, de namorados... cartas que recebi, que escrevi
- e que não mandei -, souvenirs, bonecas, coleções de cartões postais,
um pedido de um beijo com um nó feito em embalagem de bombom, cd’s,
livros, papéis de carta, pôsteres e muitas, mil, tantas outras lembranças e cheiros...
Os diários são os melhores!
Tem um que gosto mais,
por causa de sua cor – azul – e porque
nele estão os depoimentos da fase mais
movimentada da minha vida, digamos.
Apesar de algumas páginas manchadas,
eu não sabia o quanto eu era divertida.
Um escritor intitularia:
“Confissões de uma adolescente em crise”
Bem redundante isso, não? Mas, eu era exatamente assim,
confusa, caótica, apaixonada, devaneadora, crente de ter
as mais maduras opiniões.
Era adolescente,
com todo o respeito.
Juliana de Almeida
Entre todos,
o melhor.
Juliana de Almeida

Atrás de encontrar o que havia perdido

Pensava, irada, em como aquilo não fazia sentido:

"Mas, 'tava bem aqui! Eu lembro!"

O juízo, pestilento, era só a teima:

"Como pode uma coisa dessas?! Eu vi, rapaz!

Tenho certeza que 'tava aqui!"

Vermelha já estava, as mãos apertando os cabelos,

nome feio, então, nem se fala,

foi de toda qualidade.

São Longuinho só pedia três pulinhos.
Juliana de Almeida
O seu canto é alto
e alcança a mais alta janela
O seu canto é baixo
e poetiza os melhores sonos.
Beija-flores, canarinhos,
pardaizinhos, tantos vôos!...
Periquitos, sabiás,
Olha o ninho, tem mais ovo!
Come alpiste, bebe água,
tantos milhos na calçada!
Os razantes, num instante!
Mas, na gaiola
é triste o passarinho.