Juliana de Almeida
Hoje, mulher casada.
Quando volto à casa de minha mãe
Meu quarto está lá do mesmo jeitinho
E, no mesmo momento em que me espanta,
o tempo me arrebata com antigas sensações
É pura sinestesia o que tem no meu quarto de solteira!
Fotos de amigos, de namorados... cartas que recebi, que escrevi
- e que não mandei -, souvenirs, bonecas, coleções de cartões postais,
um pedido de um beijo com um nó feito em embalagem de bombom, cd’s,
livros, papéis de carta, pôsteres e muitas, mil, tantas outras lembranças e cheiros...
Os diários são os melhores!
Tem um que gosto mais,
por causa de sua cor – azul – e porque
nele estão os depoimentos da fase mais
movimentada da minha vida, digamos.
Apesar de algumas páginas manchadas,
eu não sabia o quanto eu era divertida.
Um escritor intitularia:
“Confissões de uma adolescente em crise”
Bem redundante isso, não? Mas, eu era exatamente assim,
confusa, caótica, apaixonada, devaneadora, crente de ter
as mais maduras opiniões.
Era adolescente,
com todo o respeito.
Juliana de Almeida
Entre todos,
o melhor.
Juliana de Almeida

Atrás de encontrar o que havia perdido

Pensava, irada, em como aquilo não fazia sentido:

"Mas, 'tava bem aqui! Eu lembro!"

O juízo, pestilento, era só a teima:

"Como pode uma coisa dessas?! Eu vi, rapaz!

Tenho certeza que 'tava aqui!"

Vermelha já estava, as mãos apertando os cabelos,

nome feio, então, nem se fala,

foi de toda qualidade.

São Longuinho só pedia três pulinhos.
Juliana de Almeida
O seu canto é alto
e alcança a mais alta janela
O seu canto é baixo
e poetiza os melhores sonos.
Beija-flores, canarinhos,
pardaizinhos, tantos vôos!...
Periquitos, sabiás,
Olha o ninho, tem mais ovo!
Come alpiste, bebe água,
tantos milhos na calçada!
Os razantes, num instante!
Mas, na gaiola
é triste o passarinho.